terça-feira, 11 de maio de 2010

Kama

Não acredito que estou aqui. De todos os lugares em que já fui parar na vida, este definitivamente é o mais improvável. Não quero sair daqui nunca mais na minha vida, quero me alimentar de ar, luz, cobertor... E nunca mais sair desta cama.

Deitado ao meu lado, sinto sua respiração na minha nuca. Sua mão direita repousa suavemente em minha cintura, me fazendo sentir segura, protegida, entregue. Não que isso seja ruim, mas não é necessariamente bom. Entregue, estou aberta, vulnerável, como uma presa esperando pacientemente pelo bote.

O telefone toca, é um cliente. Ele precisa atender. Sua mão se afasta do meu corpo, que lamenta a cada milímetro que a distância aumenta. Sei que é questão de segundos mas, para mim, são séculos. Pronto, voltou.

Ele encosta em meu corpo e faíscas saem de mim. É tão explícito que coro. Impossível esconder o quanto eu sou dele. Boba, me deixei cair em seu jogo de sedução. Jogo que nem ele percebeu que estava jogando.

Há poucas pessoas no mundo que nos fazem sentir como bombas atômicas prontas para explodir a qualquer momento. Como se todas as nossas terminações nervosas estivessem simplesmente aguardando o toque dessa pessoa, dessa única e rara pessoa, para nos liberar o prazer mais puro e profundo que existe.

Olhou nos meus olhos. Não sei o que é essa relação louca que temos, mas pouco importa. Deitado à minha frente, me puxou para perto. Emoldurou meu rosto com suas mãos e me beijou com tanto desejo que me senti febril. Precisei respirar. Empurrei-o para longe, com as mãos abertas em seu peito nu. Cada toque me fazia mais apaixonada por isso tudo. Suspirei.

Meus dedos deslizavam livremente pelos fios dourados de seu cabelo. Desciam pelo seu corpo, tocando cada sarda, cada tatuagem, cada pêlo. Ele era um tesouro, uma preciosidade que o mundo estava dividindo comigo, por enquanto.

Chegou a hora de ir para casa. Não me questione, faço o que faço por motivos muito nobres. Sou uma junkie por sentimentos. Acho que viemos ao mundo para isso: para sentirmos, vivermos intensamente, para sofrermos e rirmos intensamente. Da mesma forma que quero ser possuída por ele intensamente. De novo.

Quem ousa criticar os sentimentais, ou intensos? Do que seria a vida senão de emoções e sorrisos? As lembranças mais fortes não são aquelas que nos fizeram sorrir, ou chorar? Não são dessas lembranças que queremos mais, ou esquecer? É por isso que eu faço de todo momento uma lembrança em potencial. E dessa relação, faço um Soneto de Fidelidade*: "que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure".

** Kama significa "gozo dos sentidos" ou, simplesmente, "desejo". Leia mais sobre isso aqui e aqui.

Sugestão de trilha:

2 comentários. Comente também!:

Anônimo disse...

Oi Anna tudo bem ?
adorei o blog e gostaria de fazer uma parceria pode ser ?

dá uma olhadiinha no meu ?

Beijo !!!

Analuísa Bessa disse...

Oi, beeyn, pode ser! Como entro em contato ctg?
bjs!