terça-feira, 6 de julho de 2010

Conto: O outro lado do desespero

Você me vê. Aparentemente, sou uma pessoa feliz. Tenho amigos, uma família bem estruturada, dinheiro, uma carreira e sucesso. Estou sempre atarefada, seja com trabalho, com diversão ou com minhas "obrigações particulares". Sou um ombro para meus amigos, um escudo para minha família e, para mim, sou apenas eu.

Você me vê. Sempre em movimento. O que você não vê é que, se eu parar de dançar, desmorono. Toda esse revestimento de confiança, de força, esconde, na verdade, uma menina frágil, insegura, que busca apenas ser amada.

Um dia, resolvi parar de dançar. Como previa, desabei. Desabei dentro de um poço tão fundo que poderia cair eternamente em direção ao fundo.

Nesse momento, não fui ombro para ninguém. Meus dois ombros não dariam conta de consolar a mim mesma, quanto menos outros... Falhei como amiga, como filha, como ser humano. Embrenhada em minha própria dor, contemplei possibilidades inaceitáveis para qualquer outra pessoa. Pensei em me juntar às minhas amigas e seus problemas e fundar um clubinho das Suicide Sisters... Pensei em pegar o carro e minha gata e fugir para outra cidade qualquer onde eu fosse parar... Também pensei em virar assassina profissional e viver o resto da vida sem sentimentos. Nada disso adiantou.

Uma vez, um amigo muito sábio disse que, se dermos as costas para o não, nos encontraremos no caminho para o sim. E a verdade é que dar as costas para o sentimento é dar as costas para a vida.

Viemos a este mundo para sentir. E a lição que aprendi nessa minha experiência - "quase morte", me atrevo a dizer - é que a dor nos define. Foi na dor que descobri quem sou. Minhas qualidades, meus defeitos, minhas burrices. Não podemos nos proteger da dor a ponto de nunca sentirmos nada. É no auge da dor e do sofrimento - quando o coração bate tão forte que sentimos no peito - que lembro que estou viva. E só então ressurjo do poço, como a fênix das cinzas, e, mais do que a "volta por cima", dou as costas para o desespero e, quem diria, me encontro no caminho para a felicidade.

3 comentários. Comente também!:

Michael Araki disse...

Nada mal... interessante, é dotado de certo lirismo, mas com um quê visceral. Removeria a parte do amigo sábio, que ficou um tanto sem propósito no texto, é verdade. Mesmo assim, gostei. Se descobrir como virar colunista me avisa. Abraço!

Michael Araki disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Texto incrível, muito bom mesmo. Você capta os sentimentos e os descreve quase graficamente. Mas gostei do final, um difícil desenlace feliz. É sempre seguro terminar um drama como um drama, mas terminá-lo como uma lição de atitude é muito mais inspirador. Ganhou uma fã :)